sábado, 6 de dezembro de 2008



FLORBELA ESPANCA
Nasceu em Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894
Morreu em Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930
Precisamente no dia em que completava 36 anos.

"...Poetisa de Excessos, cultivou exacerbadamente
a paixão, com voz marcadamente feminina
( em que alguns críticos encontram dom-joanismo
no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por
vezes por algum convencionalismo, tem suscitado
interesse contínuo de leitores e investigadores.
É tida como a grande figura feminina das primeiras
décadas da literatura portuguesa do século XX."
*


*
Do livro de Agustina Bessa Luís, editado no ano de 2000,
retirei esta carta datada de 1927 escrita por Florbela ao
seu amado irmão Apeles já depois da sua morte num
trágico acidente de aviação.
*
DEDICATÓRIA DO LIVRO DE CONTOS
“AS MÁSCARAS DO DESTINO”

A meu Irmão,
Ao meu querido Morto:
Quando há oito anos traçava com orgulho e ternura, na primeira página do meu primeiro livro, onde encerrava os sonhos da minha dolorosa mocidade, estas palavras de oferta: À querida alma irmã da minha, ao meu Irmão, !?que voz de agoiro, que voz de profecia teria segredado aos meus ouvidos surdos, à minha alma fechada, às vozes que se não ouvem, estas palavras de pavor; Aquele que é igual a ti, de alma igual à tua, que é o melhor do teu orgulho e da tua fé, que é alto para te fazer erguer os olhos, moço para que a tua mocidade não trema de o ver partir um dia, bom e meigo para que vivas na ilusão bendita de teres um filho, forte e belo para te obrigar a encarar sorrindo as coisas vis e feias deste mundo. Aquele que é parte de ti mesma que se realiza. Aquele que das mesmas entranhas foi nascido, que ao calor do mesmo amplexo foi gerado, Aquele que trás no rosto as linhas do teu Irmão, será em breve apenas uma sombra na tua sombra, uma onda a mais no meio doutras ondas, menos que um punhado de cinzas no côncavo das tuas mãos ...
Que voz de agoiro, que voz de profecia teria segredado aos meus ouvidos estas palavras de pavor?!
Ah, a miséria dos nossos ouvidos surdos, das nossas almas fechadas! “Les morts vont vite…” Não é verdade! Não é verdade! Os mortos são na vida os nossos vivos, andam pelos nossos passos, trazemo-los ao colo pela vida fora e só morrem connosco. Mas eu não queria, não queria que o meu morto morresse comigo, não queria! E escrevi estas páginas…
Este livro é o livro de um Morto, este livro é o livro do meu Morto. Tudo quanto nele vibra de subtil e profundo, tudo quanto nele é alado, tudo que nas suas páginas é luminosa e exaltante emoção, todo o sonho que lá lhe pus, toda a espiritualidade de que o enchi, a beleza dolorosa que, pobrezinho e humilde, o eleva acima de tudo, as almas que criei e que dentro dele são gritos e soluços e amor, tudo é Dele, tudo é do meu Morto!
A sua sombra debruçou-se sobre o meu ombro, no silêncio das tardes e das noites, quando a minha cabeça se inclinava sobre o que escrevia; com a claridade dos seus olhos límpidos como nascentes de montanha, seguiu o esvoaçar da pena sobre o papel branco; com o seu sorriso um pouco doloroso, um pouco distraído, um pouco infantil, sublinhou a emoção da ideia, o ritmo da frase, a profundeza do pensamento.
Bastar-me-ia voltar a cabeça para o ver…
Este livro é de um Morto, este livro é do meu Morto. Que os vivos passem adiante…
Florbela Espanca
*

Florbela com o irmão Apeles
*

Sobre este triste acontecimento escreveu
Rui Guedes em 2000.

"...Com a morte do seu querido Apeles desiquilibrou-se
o seu frágil estado psicológico, e nunca mais foi capaz de
adormecer sem remédios ou sedativos, nunca mais foi
capaz de dormir tranquila, nunca mais riu, nunca mais
deixou o luto. Era o principio do fim. Escreveria ao seu
pai: "Morreu. Parece que morreu tudo, que ele não
deixou cá ficar nada, parece que levou tudo. A gente é
muito forte, já que não endoidece nem morre depois de
um pavor assim..."
*

G.J.
*
A exemplo do que apresentei na recente exposição
CUMPLICIDADES (um olhar sobre Florbela Espanca)
coloco aqui mais algumas palavras de Florbela, a que junto
fotografias de minha autoria.
*

*
CEGUEIRA BENDITA
“… Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
Estendendo as asas brancas cor do sono…”
Trocando Olhares

*

*
(Sem titulo)
“Hei-de dar-te o meu retrato.
Na sua moldura ri.
Beija esse pobre sorriso
Que nasceu pensando em ti.”
Esparsos de Florbela
*

*
A VOZ DE DEUS
Ó rosas que baixais as castas frontes
Quando, à tarde vos beija o sol poente,
Dizei-me que murmúrios vos segreda
O sol que vos beija docemente?...”

Trocando Olhares
*

*
NOIVADO ESTRANHO
“…O Luar vem cansado vem de longe,
Vem casar-se coa Terra, a feiticeira
Que enlouqueceu de amor o pobre monge…”
Trocando Olhares
*


*
DOCE MILAGRE
“…O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.
É tudo um imenso véu.
Nem a terra nem o céu
Se distingue. Mas tu passas…”
O livro D ele

*
*
ROSAS
“… Eu abençoo então a Natureza,
E curvo-me ante vós com humildade
Ò rainhas da graça e da beleza!”
Esparsos de Florbela























































20 comentários:

Milouska disse...

E que belo interlúdio, com uma das melhores poetizas portuguesas.
Desejo-lhe um bom domingo.
Bjos,

Milouska

Serena Flor disse...

Sua participação ficou divina...adorei!
As fotos ficaram belíssimas também.
Um grande beijo e ótima semana!

Dulce Miller disse...

"Florbela é a flor maior da poesia romântica,
é o sofrimento em versos de um soneto
é o amanhecer mais belo de um encanto
é aquela que se perdeu pra se encontrar."
(Lustato)

Só- Poesias e outros itens disse...

Gaspar,
Que beleza de homenagem a uma sublime poetisa.

Parabéns.


JU Gioli

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Gaspar, que lindo o seu texto que linda como sempre as suas fotos.

Quanta tristeza, quanta melancolia. Eu acredito que tudo o que lhe aconteceu foi demais para ela. Seria demais para nós também certamente. O mundo quando perde a sua cor, fica difícil de colori-lo novemante. Foi o que aconteceu com ela.

Um grande abraco e uma ótima semana para você.

Serena Flor disse...

Obrigada pelo seu gentil comentário e por ser seguidor do meu blog meu amigo! Bjs.

Urbano Leonel Sant' Anna disse...

Belo post! Belas fotos!

Isto é o que eu chamo de uma corrente do bem! Como é que se poderia chamar uma iniciativa que enche de poesia a blogosfera? Aqui está uma excelente oportunidade para que todos conheçam um pouco mais sobre a genial Florbela Espanca.

Eis um trecho de "Ser poeta", de Florbela:

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!"

Parabéns a todos que estão participando!

Sensata Paranóia

Sonhos melodias disse...

Gaspar parabéns por sua postagem. Lindas fotos e poemas maravilhosos. Aliás, como todos os são. Estou adorando essa blogagem.
Bjs

Vanessa Anacleto disse...

Olá, Gaspar. Eu tb estou na coletiva. Lindo seu post recheado de belas fotos ( a dos irmãos em criança eu nunca tinha visto) Parabéns!

abraço

Francine Esqueda disse...

Agora assim, voltei para ficar! Quanta coisa boa... Estava morrendo de saudades daqui! Com o trabalho diminuindo terei tempo pra vir te bisbilhotar e postar as novidades. Seu blog continua um show! Parabéns pelas escolhas e talento!
Beijos e boa semana!
Francine

Milouska disse...

Olá, mais uma vez, Gaspar!

Fotos e poemas de Florbela: quanta beleza e sensibilidade. Acho que o que é belo também encerra algum sofrimento.
Um beijo,

Milouska

Elma Carneiro disse...

Boa tarde Gaspar
Bem... não poderia ser melhor a sua participação nessa blogagem.
parabéns como sempre é o que você merece.
Alguns trechos inéditos para mim.
Amei.
Obrigada pelo comentário deixado lá e, acabei de postar algumas fotos para quem for visitar minha homenagem à Florbela Espanca.
Espero que goste do trabalho de um seu colega de ofício.
Bjs.

Janaina Amado disse...

Gostei muito do seu post, informativo, sensível, bonito. Ótima a lembrança de incluir Agustina Bessa-Luís, ela também excelente escritora.
Foi bom ter conhecido seu blog. Você é excelente fotógrafo!
As blogagens coletivas (é a primeira de que participo)tem essa vantagem, a de nos levar a bons lugares.

ETERNA APAIXONADA disse...

*****

Vim conhecer seu espaço e deixar um abraço! Adorei !!!
Linda homenagem à amada poetisa, cheia de detalhes riquíssimos!
Também participei com meus blogs. Ontem devido congestionamento não consegui visitar os blogs participantes da Blogagem Coletiva, que foi um sucesso!
Tenha uma ótima semana!

Sintonias do Coração

ETERNOS SONHARES

Coisas da Helô ©


*****

nachocarreras disse...

Impresionantes imágenes adornadas con preciosos versos.
Saludos.

Anónimo disse...

Bonita e cuidada postagem! E concorrida, também! Meus parabéns!

DILERMArtins disse...

Belíssima postagem!
A junção de suas fotos esprestou imagem à poesia de Florbela, dando a postagem beleza única!
Parabéns!

Anónimo disse...

Obrigado pela visita e pelas suas gentis palavras. Parabéns pela magnifica postagem sobre Florbela Espanca, sendo que uma das que mais gosto é:
Mistério

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados

Abraços
José Jaime

jose jaime disse...

Gaspar,
O meu comentário "José Jaime" não sei porque saiu como anonimo. assim vou tentar acertá-lo por aqui.
José Jaime
http://grafiaphoto.blogspot.com/

Dalva Nascimento disse...

Boa noite, Gaspar. Teu post realmente eternizou esse momento... com as suas belíssimas fotos, valorizando mais ainda, se é que é possível, os versos de Florbela! Estou encantada!

Lindo!
=)
Beijos!!!

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO
COM A ARTE NO OLHAR